21.3.07


A velha calça desbotada ou coisa assim
Ou, sobre A.

Sei que não deveria, mas eu ainda sinto o seu cheiro no travesseiro. E é tão doído perceber que o calor da minha cama não é o mesmo: há uma metade fria: o lado esquerdo – também no meu peito.

Não podia imaginar que sua ausência me faria perder os sentidos. E é tão sem sentido esse me perder. Foram muitos os [não] amores que arquitetei. Construí tantos casamentos sombrios: cada casa um mausoléu.

E eu juro que, diariamente, engendro uma tentativa: ensaio uma nova despedida para não mais doer. Mas, toda manhã, por debaixo da porta, vão me acordar: o aroma do café e a música do Roberto.

Sento à mesa com saudades de você e nossos dramas. Tento inutilmente ter poderes de cigana e certificar-me da sua volta no fundo da minha xícara.

E não há mágica que possa.



Palavras por Ana Luisa Lima.
Imagem por Marcos Vasconcelos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo! Não é que ela tem mil e um talentos?
Adorei, vou ficar dando uma passada aqui e adicionei o link lá no meu word press. beiju

e viva o roberrrto! \o/