19.3.07

Entremeio
a André.

Tem dias em que naquele momento de quase acordar penso estar em outra vida – aliás, a mesma vida que se por outras circunstâncias... Oportunidade de redenção. É quando não me pesam os nãos e as possibilidades estão todas ali, diante de mim. Naquele quase-dormir fluxos de sentimentos me tomam. As sensações retornam como se nada.

É como se tudo fosse como antes.

Essa semana, num desses instantes, revivi a presença de A. O meu corpo foi capaz de latejar de alegria, invadia-me mais uma sexta-feira – o dia em que trabalho, amigos, família e faculdade eram deixados para trás. Só trazíamos para o nosso encontro as saudades, amontoadas como cartas, de uma semana inteira.

Mas é acordar e ver que seus cabelos cacheados não têm cheiro, e daquele sorriso não me virá um beijo. É perceber que as coisas hoje já não sufocam de desespero. E o meu destempero é essa ausência de dor no peito – apesar da ferida que ainda sangra.

No momento de quase acordar, em que penso estar em outra vida, os relógios fingem estancar: o tempo e o corte. E por poucos segundos... A. aqui dentro - em mim. Cada vez menos...


Palavras por Ana Luisa Lima.
Imagem por Marcos Vasconcelos.

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