16.4.07




Figura


Escolhemos um lugar escondido, debaixo de uma árvore frondosa à beira do rio. Cavamos com nossas próprias mãos. Quebramos as unhas. Enterramos. Sujos e cansados, deitamo-nos em cima. Um jazigo sem lápide - para um amor enterrado vivo. Sangramos.

Deitados e de mãos dadas. Esperamos. Imaginamos o tempo necessário para aquela morte (in)adequada; a areia negra entrando pela garganta. O amor deveria morrer sufocado, em agonia. Nós fingimos calma - frieza de assassinos.

Ajudamo-nos a nos levantar com gentileza - sem coragem de olhar: olhos-nos-olhos. Tomamos nossos caminhos. Antagônicos.

Por culpa ou solidão, eu ainda volto ao lugar. Choro sem saber se o amor morreu, ou se alguém descobriu em tempo nossa loucura... Virei refém.

Visito o jazigo com flores – jasmins – e esperança inútil. Há muito que não passo nem perto de sua janela... Pra quê?



Palavras por Ana Luisa Lima.
Imagem de Marcos Vasconcelos.

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